Os memes na Cibercultura

A mudança geral do fluxo das informações em rede consegue recriar grandes fenômenos da comunicação. O meme (palavra derivada do termo inglês “mimeme”, que por sua vez vem do grego “mimema”), apesar de já ter sido definido em 1976 por Richard Dawkins como “algo que é imitado”, é um grande indicador contemporâneo da revolução promovida pela cibercultura. A utilização da fotografia em suas variações, dentro desse contexto, nos permite refletir sobre o processo de criação e cocriação dos memes, e como isso revela a potência das diferentes conexões dentro de uma só rede. 

Os conteúdos e as informações que chegam para nós não estão mais restritas somente ao modelo de produção mass media ou linear (André Lemos fala sobre isso no seu livro intitulado Cibercultura). Segundo ele,  “pela primeira vez, qualquer indivíduo pode produzir e publicar informação em tempo real, sob diferentes formatos e modulações, adicionar e colocar em redes com outros, reconfigurando a indústria cultural”. Estamos vivendo um período de excesso da informação e todos os pontos de convergência dessa rede têm os meios necessários para tornarem-se prossumidor, ou seja, consumidor e produtor de informação.   

Pensando novamente nos memes, que possuem a fotografia como elemento central, a fórmula básica para a sua construção nada mais é do que uma foto somada a um texto e, se tem foto na equação, nós vamos analisar! Pare para pensar um pouco nos últimos memes com fotos aos quais teve acesso e veja se eles não seguem esta mesma lógica : 

                               uma foto tirada de contexto + legenda engraçada

Esta produção pode ser explicada através do conceito “Narrativa Transmidiática” de Henry Jenkins. De acordo com o autor, “uma história transmídia desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia, com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na forma ideal de narrativa transmídia, “cada meio faz o que faz de melhor”. E é exatamente isso que viabiliza o humor dos memes. 

Uma foto por si mesma, por exemplo, já tem o seu significado. Assim como o texto usado como legenda do meme também. Já os dois elementos hibridizados possuem um significado completamente diferente e, quando leva-se em conta outros fatores como contexto, personagens e autores, a percepção e compreensão sobre o tema (sobre o que foi proposto) é muito maior e mais fácil.

Lev Manovich fala isso em seu texto sobre a “Remixabilidade e Modularidade da Informação”. Imagine cada parte do meme como uma parte da informação. Quando você junta o texto com a imagem ela se transforma em algo diferente – algo que você construiu. Estas peças podem ser montadas de incontáveis formas e maneiras diferentes e, apesar de formarem diferentes combinações, as peças isoladamente continuam intactas, não importa quantas vezes você monte e as desmonte. Este é o princípio da remixabilidade proposto por Manovich. 

Pensando em imagem (uma foto 😉 ), seria algo como mexer nos seus elementos com Photoshop, onde você pode trocar a cor, aumentar o tamanho, tirar ruído, adicionar e remover coisas. Em cada etapa desse processo você terá uma construção diferente da imagem e a cada caminho escolhido uma “chegada” também diferente. Mas, se você quiser desconstruir tudo apertando control+z, você pode.

Este é um exemplo de meme bastante conhecido e divulgado pelos brasileiros. Para entender o humor dessa imagem você precisa não só saber quem é essa pessoa (Chico Buarque de Holanda), mas entender o contexto que a legenda faz referência (nesse caso a censura no período da Ditadura Militar no Brasil). Além disso, precisamos levar em consideração que a popularização desse meme se deu graças às Redes Sociais e os seus Atores Sociais, como nomeia Raquel Recuero. Sem eles essa imagem certamente não ganharia a dimensão que tem hoje. 

Exemplos como este exponenciaram os processos de ressignificação dos conteúdos criados, uma vez que o conteúdo está acessível e passível de ser modificado a todo momento por qualquer indivíduo inserido nessa rede. Dentro da cultura de colaboração, as peças do quebra cabeça vão se completando e um sentido novo é criado cada vez que algo é modificado. 

“Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades.”.

Inclusive na produção de memes.

Jenkins não disse essa última parte, mas sinceramente, bem que poderia.

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