AS SELFIES NO INSTAGRAM

Iniciamos o nosso blog falando sobre como se deu o processo fotográfico ao longo desses anos. Começamos pelas pinturas rupestres e chegamos até os tempos atuais, no qual as câmeras dos próprios smartphones são capazes de fazer coisas inimagináveis antigamente. No entanto, falamos muito pouco sobre como essas mudanças alteraram a forma como as pessoas se comportam. Será que o autorretrato ainda é igual aos que Frida Kahlo fazia em 1907 ou será que as selfies em si já são a prova viva dessa mudança?

O dicionário Oxford define selfie como: “uma fotografia que alguém tira de si mesmo, normalmente tirada com um smartphone ou webcam e compartilhada através das redes sociais” (SELFIE, 2015). Fica evidente, então, as maiores diferenças entre o autorretrato e a selfie. Primeiro que a selfie (levando em consideração a definição do dicionário) é feita, normalmente, a partir de um smartphone ou por um webcam e, convenhamos que, na época de Frida nenhum dos dois existiam. Segundo, as selfies estão diretamentes ligadas à forma como elas vão circular na Internet. Segundo o Oxford, elas são circuladas através das redes sociais! Na época de Frida ainda não existia Internet e, muito menos Instagram. 

Uma ênfase precisa ser dada à este aplicativo: o Instagram foi criado em outubro de 2010 pelo americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Michel Krieger com o objetivo de originar uma rede social com base na comunicação visual e usando os dispositivos móveis (smartphones e tablets) como artefatos. Hoje, o Instagram já possui 800 milhões de usuários em todo o mundo e o nosso país só fica atrás dos Estados Unidos no ranking. 

A quantidade de foto e de selfies que circulam pelo Instagram é gigantesca! De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae em 2018, mais de 600 MILHÕES de fotos são postadas POR DIA! Sendo assim, fica evidente que a tecnologia digital ofereceu uma mobilidade à fotografia na medida em que os conteúdos são gerados e publicados em tempo real e isso é incrível!

O que vivemos agora no Instagram trata-se, como chama Amparo Lasén (2015), de uma modulação da intimidade através de práticas banais e cotidianas de produção e compartilhamento de selfies. Quando abrimos a ferramenta “stories” no aplicativo, por exemplo, a câmera que abre no smartphone é a frontal. Ou seja, o próprio aplicativo já induz a essa produção das selfies.

A câmera não está virada para o mundo externo, ela está virada para você. E não só está virada para você, como já está te oferecendo inúmeras outras ferramentas como filtros, gifs, efeitos, hashtags e emojis para tornar a sua selfie ainda mais interessante para os seus seguidores. Além disso, o aplicativo ainda permite que você coloque música nos seus stories, que você mencione alguém, realize enquetes, faça perguntas, testes, enfim, são inúmeras opções para tornar aquele conteúdo ainda mais atraente e interativo. 

De acordo com Simonetta Persichetti: “no caso da fotografia, é bom sempre lembrar que a construção de uma imagem nunca é cópia de um mundo externo, mas a concretização do imaginário de um sujeito inserido numa sociedade, numa cultura, num determinado momento histórico.” Desta forma, simplificar a selfie como um ato narcisista e egocêntrico é não entender todos os elementos que a compõem.  Quando mandamos uma selfie para os nossos amigos com o filtro de “exausto” embaixo dos olhos, nós não estamos simplesmente enviando aquela imagem por enviar, sem uma razão. O importante aqui é entender o processo como as selfies são tiradas e o contexto em que eles são enviadas e, principalmente, para quem são enviadas. 

Quando enviamos esse tipo de selfie para um amigo, por exemplo, estamos aproximando esse amigo da nossa rotina. Estabelecemos uma nova forma de comunicação. Uma coisa é mandar uma mensagem do tipo “nossa, amiga, estou exausta”, outra coisa é mandar uma selfie, com o filtro de “exausto”, mostrando o computador e vários cadernos, com o filtro do próprio Instagram marcando a hora, a data e o local em que aquela selfie foi tirada. Essa fotografia é síntese do que aquela mensagem diria, além de legitimar a situação. Como sintetiza Boris Kossoy (2007, p. 54), “toda fotografia é criação um testemunho que se materializa a partir de um processo de criação, isto é, construção.”.

A intimidade torna-se, então, relacional. O compartilhamento de uma selfie vai muito além do compartilhamento de uma imagem. Flusser constata que: “no momento em que a fotografia passa a ser modelo de pensamento, muda a própria estrutura da existência, do mundo e da sociedade” (Flusser, 1983, p. 73). Quando compartilhamos uma selfie, compartilhamos experiências, sentimentos, momentos. Mostrando o que estamos sentindo e fazendo naquele exato momento, da forma mais lúdica, criativa e interativa possível. Esperamos sempre que aquela selfie tenha algum impacto para quem nós enviamos. Não é um processo individualizado, é um processo compartilhado e coletivo, que requer inúmeros utensílios como internet, smartphone, o próprio Instagram e a rede de pessoas que irá fazer parte desse momento. 

Portanto, é mais do que óbvio que o autorretrato pintado por Frida Kahlo, por exemplo, é o pai da selfie. No entanto, precisa-se levar em consideração a prática e o contexto em que as selfies são tiradas e pensar, também, na forma como as redes sociais (no caso aqui, o Instagram) acabam apelando e modificando essa produção. A prática da selfie cresce, então, graças à um passado cultural oriundo dos autorretratos, associado às potencialidades comunicativas dos smartphones.

Deixe um comentário